A represália do Irã foi calculada e calibrada com cuidado para evitar uma escalada da guerra – algo que Teerã não quer. Seu objetivo não era infligir danos graves, mas ultrapassar um limiar e deixar um recado. Isso foi alcançado
Jean-Pierre Perrin, no Mediapart | Tradução: Glauco Faria, a partir de versão em castelhano, por Pablo Stefanoni, no Nueva Sociedad |# Publicado em português do Brasil
O ataque iraniano procura enviar uma mensagem a Israel sem gerar uma escalada, e é tanto para consumo interno como para os seus aliados regionais. No entanto, as ações militares, destinadas a “vingar” o ataque israelense ao consulado iraniano em Damasco, ultrapassam um limiar: da guerra por procuração a um ataque direto de Estado a Estado.
Com a Operação Honest Promise, Teerã executou a sua vingança. O próprio líder supremo do Irã, o Aiatolá Ali Khamenei, reconheceu isso abertamente. Nos minutos que se seguiram ao início do ataque iraniano contra Israel, na noite de sábado, ele repetiu em sua conta na plataforma X a ameaça que havia feito alguns dias antes: “O regime maligno será punido”. Mas esta foi uma vingança cuidadosamente calibrada, estrategicamente calculada para evitar uma verdadeira escalada regional, e não destinada a infligir danos graves ao Estado israelense.
Para Teerã, o objetivo era mostrar a Israel que não aceitará mais ver os seus altos funcionários serem eliminados um após outro na Síria e no Líbano. E também mostrar aos seus aliados regionais, cansados de receber duros golpes sem uma resposta iraniana, que tem capacidade para atingir o seu inimigo e fazê-lo com uma operação em grande escala. Foi também uma mensagem para a população iraniana.
O fato é que um limite foi ultrapassado. Pela primeira vez na sua história, a República Islâmica do Irã, ao lançar várias centenas de drones e mísseis, realizou um ataque direto, massivo, de Estado para Estado, contra Israel.